Natural Cycles – a app que tem dado que falar

Natural Cycles (NC), a app de que tanto se falou em 2017, continua a ser notícia.

O ano passado, a NC foi aprovada como dispositivo médico em vários países (Portugal incluído) e apresentada como a primeira app contracetiva do mundo, disponibilizada para iPhone e Android em formato pago mensal ou subscrição anual (±65€)…

Começámos mal, diria eu porque uma app não pode, nem nunca poderá ser, um contracetivo já que este é algo que impede a conceção e não é por descarregar uma aplicação para o meu smartphone que estou automaticamente protegida. Parece óbvio mas nunca é de mais esclarecer.

Elina Berglund (sueca e formada em Física Nuclear) desenvolveu juntamente com o marido, um novo (1) algoritmo matemático para prever a janela fértil através da medição da temperatura corporal basal (2). A temperatura das mulheres férteis altera-se durante o ciclo menstrual, subindo ligeiramente após a ovulação devido à produção de progesterona; com a medição consistente da temperatura diária e introdução dos valores na app, as mulheres recebem indicação sobre a sua fase de ciclo.

estudo de 2015  e o de 2017 , ambos levados a cabo pelo casal, apresentavam uma eficácia de 93%, ou seja, no período de um ano de utilização poderíamos contar 7 gravidezes em cada 100 mulheres.

Meses e milhares de downloads depois da disponibilização da NC ao mercado, eis senão quando esta volta a ser notícia.
(Gostava muito de colocar aqui um link para uma notícia portuguesa mas à data em que escrevo este post, por cá, “no pasa nada”…)

A notícia é que um hospital sueco reportou 37 gravidezes indesejadas fruto da utilização da app.
Ora voltemos ao início do post.
a) uma app NÃO É um contracetivo;
b) a monitorização natural da fertilidade, assuma ela qualquer das suas formas possíveis (apps incluídas), implica SEMPRE a necessidade de proteção nos dias férteis (habitualmente através de métodos barreira);
c) o coito interrompido – alternativa utilizada por casais que dispensam os métodos barreira – tem uma taxa de eficácia de ±78%  o que equivale a 22 GRAVIDEZES em cada 100, no período de um ano.

Por isso, antes que se levantem as vozes do costume, vamos distribuir responsabilidades?
Esta app não é perfeita (93%). Aliás não há métodos contracetivos perfeitos, há até quem engravide com o DIU (que apresenta um dos maiores índices de eficácia entre os contracetivos existentes atualmente), e a única forma de garantir que não se engravida é *spoiler alert* não tendo sexo ?

Quantas vezes já não ouvimos uma história de alguém que engravidou a usar a pílula?
“Ah e tal, é eficaz mas eu engravidei”. Está bem, mas as perguntas que nunca se fazem são: que uso fazias dela? tomavas sempre como indicado na bula? tiveste atenção às interações medicamentosas? bebeste álcool? tiveste vómitos ou diarreia? sabes o que interfere com a sua eficácia? etc. etc. etc. E se a resposta for “fiz tudo como manda a lei” fantástico!, bem-vinda à estatística e aos famosos ±1% que a pílula tem de margem na sua eficácia.

Claro que 37 gravidezes indesejadas são uma chatice mas as perguntas que ficam, para já, sem resposta são:
– foi usado método barreira nos dias acusados como férteis?
– se sim e se correu mal, foi tomada uma pílula do dia seguinte?
– foi usado coito interrompido em dias férteis? (desaconselhado pela NC)
– estas mulheres têm todas mais de 18 anos? (limite mínimo de idade para uso da app)
– este número de gravidezes enquadra-se na estimativa das 7 gravidezes em cada 100 mulheres?

Portanto, o seu a seu dono porque tudo se resume a duas coisas: responsabilidade e probabilidade estatística.

Qualquer que seja o método que escolhas, usa-o responsavelmente, informa-te e “faz a tua parte”.
Lembra-te que uma simples app de período (utilizada pela maioria para apontar os dias em que menstruam) não te pode dar mais informação do que o teu corpo, por isso não te agarres às estimativas que ela te dá (de data de menstruação ou sobre quando estás fértil).

E pela enésima vez: apenas o preservativo (masculino ou feminino) te protege de infeções sexualmente transmissíveis e que nisto da sexualidade e da fertilidade em caso de dúvida, NUNCA se arrisca.

Se estiveres disposta a saber mais sobre o teu corpo e diminuires as probabilidades de erro, sabe que a descoberta dos teus indicadores de fertilidade é valiosa e útil até à menopausa.
Tens um ebook gratuito para download aqui no site e há workshop de nível 1 em Março quase-quase cheio.

Anda daí!

(1)”Novo” porque existem outros com o mesmo propósito, utilizados por outros dispositivos de monitorização de fertilidade.

(2) temperatura do corpo em descanso