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- Publicado: 16/01/2018
- Categoria: Ciclo Menstrual, Fertilidade
Quantas vezes ovulamos ao mês?
Uma, duas, três? Afinal quantas vezes ovulamos ao mês?
“Tenho muco fértil, a minha temperatura sobe e desce, depois tenho muco fértil outra vez e a temperatura volta a subir. Acho que ovulo duas vezes!…”
Gosto particularmente deste assunto por dois motivos.
Primeiro porque, como diria Neil deGrasse Tyson, o melhor que a ciência tem é que “é verdade”, escolhas tu acreditar nela ou não. (A “verdade” aqui entendida como algo que pode ser demonstrado).
[Antes de prosseguir, quero só lembrar que em MNF todo o muco é fértil, sobretudo para quem não quer engravidar. Vamos assumir aqui o “muco fértil” como aquilo que chamamos “muco de pico de estrogénio”, conhecido pelo muco clara d’ovo ou aguado.]
A resposta é simples: uma ovulação
Esta questão mostra-nos como é importante o uso que fazemos das palavras.
Por exemplo, se me perguntam:
a) “É possível ovular duas vezes, em ALTURAS DIFERENTES DO MÊS?” a resposta é sim.
b) “É possível ovular duas vezes em ALTURAS DIFERENTES DO CICLO?” a resposta é não.
c) “É possível ovular duas vezes no MESMO CICLO?” a resposta também é sim.
Onda folicular não é obrigatoriamente ovulação
A confusão instalou-se quando um estudo de 2003 – que detetou a existência de duas e três “ondas foliculares” nas 50 mulheres que compunham a amostra – foi, para não variar, mal-interpretado e resultou nesta coisa das ovulações múltiplas em fases diferentes do ciclo.
De vez em quando, estas notícias viralizam nas redes sociais espalhando confusão e ignorância sobre a forma como o ciclo se desenha e manifesta.
Ainda assim, é importante dar crédito ao estudo, esquecendo o que se fez dele.
A descoberta de que a génese folicular ocorre em várias ondas surgia há cerca de 20 anos como uma promessa interessante para quadros de tratamentos de fertilidade com estimulação ovárica e no desenvolvimento eventual de novas soluções hormonais contracetivas…
Assim, quero que entendas que são estas ondas foliculares que podem fazer com que o teu “muco de pico”, ou clara d’ovo, dê sinal várias vezes antes da ovulação efetivamente ocorrer (e pode, em casos específicos, resultar em mais do que um teste de ovulação positivo com poucos dias de distância).
Ovulação, óvulo e dança hormonal
Importa lembrar que o nosso corpo é uma espécie de Orquestra de Viena.
Nada acontece ao acaso, nem fora de tempo.
Então, após a libertação do óvulo, a alteração hormonal que ocorre no corpo impede que continue a haver maturação de folículos – o que anula a hipótese da alínea b).
Contudo, existe uma janela de 24horas – porque nada no nosso corpo é imediato – em que a libertação de um segundo óvulo (ou até de um terceiro!) pode ocorrer: a chamada hiper-ovulação que dá o ‘sim’ à alínea c) e que está na origem dos gémeos heterozigóticos, fraternos ou não-idênticos.
Alínea a) em análise
Portanto, resta-nos a alínea a) que pode acontecer a quem tem ciclos curtos, com ovulações consistentes e ritmadas com o calendário mensal.
Exemplo 1:
– Ovulação: dia 12 de ciclo (DC12), 3 de Janeiro.
– Fase Lútea: 14 dias
– Menstruação: dia de ciclo 1 (DC1) a 18 Janeiro.
– Ovulação: dia 13 ciclo (DC13), 31 Janeiro.
Exemplo 2:
– Menstruação: DC1, dia 01 Março.
– Ovulação: DC10, dia 10 Março.
– Fase Lútea: 9 dias.
– Menstruação: DC1, 20 Março.
– Ovulação: DC11, 31 Março.
Neste caso, as ovulações acontecem ao ritmo de duas por mês de calendário, mas uma por ciclo.
E por fim…
Respondendo a eventuais questões que possam ter ficado no ar, sim, é possível uma pessoa saudável não ovular pontualmente (ou seja, fazer um ciclo anovulatório) sem que isso seja motivo de maior preocupação. Nesse caso, o teu gráfico manterá uma aspeto serrote sem que seja possível identificares uma subida sustentada de temperatura, que te confirma a ovulação.
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Se tens gráficos que queres perceber, perguntas sobre o teu muco, fase lútea, ovulação, ou alternativas contracetivas não hormonais ou sem inibição da ovulação? Vem falar comigo!
Bons ciclos e uma ovulação de cada vez!