Ovulação, para que te quero?

Numa sociedade que sempre esteve e continua focada no sangue menstrual, nunca é demais lembrar que ele faz parte de um ciclo invisível e que, como na maioria das coisas, o que acontece em bastidores é muito mais importante do que aquilo que se vê.

A ovulação é, tout court, a libertação do óvulo do ovário.
Sem ovulação não há possibilidade de fecundação pelo que a ideia de que ambas andam a par está correta. Porém, isso não significa que a ovulação seja evento acessório para as que não pretendem fazer uso da sua fertilidade como tantas vezes nos fazem crer…

O processo que resulta na libertação do óvulo não começa no ovário mas sim no nosso cérebro, com a segregação de uma hormona que sinaliza os ovários para o processo de amadurecimento de vários folículos.
É esta origem do ciclo que faz com que mulheres em condições distintas das que o seu corpo reconhece como de homeostase não ovulem.
Porquê? Porque uma gravidez é um investimento físico de larga escala e duração e o corpo salvaguarda-se de encetar tamanha viagem se não estivermos capaz de a levar a cabo.

E por isto, costumo dizer que a ovulação é  “a rainha do ciclo”. Ela diz-nos muito sobre cada uma de nós, a cada mês menstrual. Se ovulamos, ou quando ovulamos, vai depender do nosso meio envolvente, do nosso estilo de vida e do nosso estado geral de saúde geral.

Daí termos de ter atenção às aplicações de smartphone baseadas no Método do Calendário, que assumem que todas as mulheres com ciclos de 28dias ovulam a dia 14, porque isso não é necessariamente verdade, sequer em mulheres com essa duração de ciclo (e para quem está a tentar engravidar, estas apps podem ser um fator adicional de frustração pois o óvulo, após a sua libertação, é viável apenas entre 12 a 24horas: falha-se a janela fértil e perde-se um mês de tentativas).

Mas este post não é para falar sobre ovulação e gravidez mas sim para esclarecer para que nos serve ovular se/quando não queremos engravidar.

É o evento da ovulação que garante a produção de progesterona ovárica – “hormona-irmã” do estrogénio e que contrabalança o seu efeito multiplicador de células.
A fase lútea, pós-ovulatória, é, por excelência, a fase da progesterona.

Quando não ovulamos (seja naturalmente ou porque estamos a utilizar contraceção hormonal para a sua inibição), a nossa produção de progesterona fica comprometida e, apesar do seu nome se dever a uma das suas nobres funções (“pró gestação” i.e. manutenção de gravidez), na verdade, a sua existência é essencial ao desenvolvimento de tecido mamário saudável, a menstruações regulares e a fluxos menstruais “normais”.

Quando o rácio estrogénio-progesterona está desequilibrado e não há produção suficiente desta última, é fácil encontrarmos estes sintomas:
– ganho de peso
– alterações na disposição e TPM
– decréscimo de libido
– tensão mamária
– quistos ou fibróides (mamários ou uterinos)
– alterações no funcionamento da tiróide
– alterações menstruais (duração de ciclo ou fluxo)

A progesterona tem ainda uma acção anti-inflamatória (e é, por isso, essencial à nossa saúde cardio-vascular) e anti-envelhecimento; ajuda-nos a dormir melhor, faz o nosso cabelo ficar bonito e ajuda à regeneração óssea. Para além de contribuir para a nossa saúde mamária.

Quando seguimos o Método Natural de Fertilidade, sabemos, entre outras coisas, que a nossa temperatura sobe após ovularmos. É a progesterona a aquecer-nos o corpo, a preparar-se para receber um óvulo fecundado, como se fosse um ninho. E quando a temperatura não baixa ao fim de uns 18-20 dias, é normal que a menstruação não desça porque “estamos grávidas”.

E agora aquilo que quem está a tentar engravidar não vai gostar de ler:
O stress é um dos factores que contribuem para baixos níveis de progesterona. Quimicamente falando, níveis elevados de stress bloqueiam os recetores de progesterona e limitam-lhe a ação. E quando a progesterona está baixa, registamos endométrios débeis, spotting de fim de ciclo ou, eventualmente, perdas espontâneas de gravidezes que se iniciam… Podes ler mais sobre níveis baixos desta hormona tão especial aqui e aqui.

Bons Ciclos!

assinat_Patricia

NOTA: Os nossos níveis hormonais flutuam durante o ciclo pelo que se precisares analisar a tua progesterona tem em conta que ela sobe 2 a 3 dias após a ovulação e tem o seu pico pelo 7ºdia do pós-ovulatório. Se usas o método natural de fertilidade lembra-te que níveis saudáveis de progesterona garantem fases lúteas com uma duração de 9 a 16dias.