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- Publicado: 24/08/2024
- Categoria: Fertilidade, Workshops
Gravidez surpresa e bebés-milagre
Gravidez surpresa e bebés-milagre andam de mãos dadas.
As gravidezes surpresa são as que resultam espontaneamente, quando supostamente nada as faria prever… A palavra mágica aqui é “supostamente”, e a pergunta que temos de nos fazer é:
“não era expectável engravidar porquê?”
Desinformação milagrosa
Em mais de dez anos, conto pelos dedos das mãos o número de gravidezes “milagrosas” a que assisti, e que ainda assim tiveram mais de estatística que de milagre, como foi o caso de DIU’s que falharam ou bebés após vasectomias por exemplo.
A maioria dos bebés-milagre, os que ninguém esperava, os “impossíveis”, resultam de um misto de ingenuidade e desinformação em termos de literacia de ciclo, levando as pessoas a crer que não devia ter sido possível engravidar.
O assunto é delicado, já que uma gravidez inesperada terá sempre consequências emocionais nem sempre fáceis de gerir, e uma decisão que se impõe sobre o que fazer com a surpresa.
Abordar este tópico não serve para apontar dedos, mas sim para contribuir para um melhor esclarecimento das situações para que toda a gente possa ficar a ganhar.
A ideia de que um corpo é algo absolutamente incontrolável e com vontades próprias data de há vários séculos, e é lá que tem de ficar.
Para bem de toda a gente, é preciso esclarecer que bebés-milagre e gravidezes surpresa (ainda que possam ser bem-vindos) são, na sua maioria, fruto de desconhecimento ou de risco incorrido e/ou mal-medido.
Verdades inconvenientes
Relativamente a este assunto, há duas questões que recolhem sempre muitas reações quando as exponho, e sobre as quais precisamos de refletir para bem geral:
1. sexo desprotegido nunca pode resultar numa “surpresa”;
Se houve sexo sem proteção, ou o método utilizado para evitar uma gravidez apresenta elevado risco falha, não podemos falar em “surpresa”.
Podemos falar em risco mal medido, ou em otimismo de pensar que o azar não nos bateria à porta, mas uma gravidez que resulta de falta de proteção, não deveria ser catalogada como algo inesperado.
2. o conhecimento geral sobre fertilidade, da maioria da população, é medíocre;
Quando a informação que temos para gerir a nossa fertilidade não está correta nem atualizada, ou quando entregamos a uma aplicação de smartphone a responsabilidade de nos dizer se estamos ou não férteis, a probabilidade de insucessos nas nossas tentativas de evitar uma gravidez aumenta drasticamente. Aqui a “surpresa” resulta de desinformação e de ignorância.
Três exemplos comuns
Estas são talvez as três situações, que com uma ou outra variante, vejo repetirem-se.
A “pergunta que importa” é obviamente retórica, e para que cada pessoa a faça a si mesma.
A) Nem estávamos a tentar!
Pergunta que importa: “Não estavam a tentar, mas estavam efetivamente a evitar uma gravidez? Utilizaram o máximo de proteção possível?
Se esta falhou, tomaram medidas no sentido de acrescentar nova camada de proteção?” (por exemplo, quando o preservativo rompe, tomar pílula de dia seguinte).
A questão passa, mais uma vez, pela aferição do risco e na estratégia de evitamento.
Existiram?
(Reparem: se existiram estas medidas, a pessoa já sabia que algo tinha corrido mal e que estava em risco de uma gravidez, tanto que tomou medidas de emergência. Nesse caso, a confirmação de um positivo era uma possibilidade com que já contava e que tentou remediar. Sem surpresas aqui.)
B) Estava sem período há séculos e, por magia, engravidei!
Pergunta que importa: “Sabes que uma ovulação vem sempre antes de uma menstruação? E que por isso, estar sem período não significa que podes ter sexo desprotegido?”
e voltamos à alínea A):
“Evitaste esta gravidez, protegendo-te ao máximo? Se não, não foi magia, foi sexo desprotegido.”
Esta situação é comum em mulheres com amenorreia hipotalámica ou lactacional, em pós-parto ou em perimenopausa.
C) O meu primeiro bebé teve de ser com tratamentos e este veio naturalmente!
Pergunta que importa: “O encaminhamento para tratamentos tinha causa identificada? Sabias que casos de infertilidade inexplicada, ou motivados por fator masculino, sabemos que podemos esperar gravidezes espontâneas até dois anos (e seguintes) após tratamentos?”
e mais uma vez, a alínea A)
“Fizeram por evitar esta gravidez?”
Não queremos surpresas nem milagres
Este artigo é um convite à responsabilidade pessoal, à salvaguarda da integridade física e à auto-preservação.
A vida está cheia de imprevistos e eventos inesperados que baste!
Perpetuar a narrativa do corpo que nos finta as vontades, para bem ou para o mal, é alimentar medos infundados e empurrar a narrativa vigente para um espaço de magia onde te medicas para ter controlo sobre o corpo, ou ficas à mercê do universo…
Como diria Albert Einstein, há duas maneiras de estar na vida: ou achamos que tudo é um milagre, ou nada é um milagre.
Do meu lado posso dizer-vos que a desinformação e a iliteracia de corpo de raparigas e mulheres nunca, mas nunca, será milagre nenhum.
Há workshops sobre Método Natural de Fertilidade para não engravidar, e para pais e educadores poderem orientar jovens nos primeiros anos menstruais.
Lê aqui todas as informações e consulta o calendário – se as datas não te servirem, podes inscrever-te à mesma e depois assistir à gravação do workshop.