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- Publicado: 17/06/2022
- Categoria: Ciclo Menstrual, Fertilidade, Literacia de Corpo
Fertilidade no pós-parto
O pós-parto é todo um (outro) mundo cheio de desinformação no que diz respeito a questões menstruais e de fertilidade.
Não admira. Temos tratado o pós-parto de forma genérica, como se fosse um enorme bloco de tempo, idêntico na vida de todas as pessoas que acabaram de ter um bebé, e solucionado com uma mesma solução: a pílula de amamentação.
Ora um pós-parto é algo tão individual quanto uma gravidez.
Mais ainda, um pós-parto é construído a cada semana (para não dizer a cada dia) entre mãe e bebé, traduzido numa complexidade de fatores que contribuem para o atraso ou regresso da fertilidade.
Recebo mulheres para sessões de pós-parto antes ainda do bebé chegar – entre as 32-35 semanas de gravidez – e das várias coisas que ouço, estas quatro são talvez as mais comuns:
- Enquanto amamento, não engravido. FALSO.
Ou “falso para a maioria”.
É preciso cumprir os requisitos do método de Amenorreia Lactacional para se poder contar com supressão da ovulação durante um período máximo de 6 meses após o parto.
A ideia de que basta amamentar para se estar protegida, é errada! - Foi muito difícil engravidar a primeira vez, por isso agora dificilmente vai acontecer. FALSO.
Apesar de não termos dados que confirmem o reset hormonal da gravidez em termos de fertilidade, sabemos que há um conjunto de fatores (estas ideias pré-concebidas incluídas) que fazem com que as gravidezes não programadas após uma gravidez sejam uma realidade. Portanto, não interessa quanto tempo levaste a engravidar a primeira vez (mesmo que tenhas tido um processo assistido por infertilidade inexplicada!), é falso que por teres levado muito tempo da primeira vez, vá ser igual numa próxima.
Se não queres engravidar novamente, ou para já, tens de te proteger. - Enquanto o período não voltar, não há riscos de engravidar. FALSO.
Morre um pintassilgo, cada vez que alguém pensa que isto verdade. E morrem muitos.
A menstruação é um subproduto do ciclo menstrual.
Para haver menstruação, teve de haver uma ovulação.
Ou seja, ovulação primeiro, menstruação depois. Para os milhares de pessoas que já leram o Não é Só Sangue isto é óbvio. Faltam os outros muitos milhares!
Se a ovulação acontece e há espermatozoides disponíveis para fecundação, é possível que a menstruação nunca chegue e tenhas uma “gravidez surpresa” (que na verdade é só uma “gravidez por desinformação”, i.e., as que queremos que não aconteçam).
Deves considerar-te fértil ainda que não tenhas período, e se não estiveres em (verdadeira) amenorreia lactacional. E lembra-te que para quem não quer engravidar, TODO O MUCO É FÉRTIL. - Não preciso de voltar à contraceção hormonal. VERDADEIRO.
É certo que não precisas, mas estás certa de estar a tomar a decisão com base em toda a informação que necessitas? O que tens ao teu dispor e alcance, chega para que retomes a tua vida sexual de forma absolutamente segura?
Muitas mulheres, após a gravidez, sentem que a contraceção hormonal deixou de lhes fazer sentido, ou que levaram muito tempo a engravidar por causa dela, e ainda que, se retomarem, quando quiserem engravidar novamente vai ser mais difícil, etc.
Ora apesar de todas estas coisas poderem fazer sentido, temos de compreender que nem todos os pós-partos são iguais em termos de solicitações.
Quando o quotidiano está cheio de exigências, entre um bebé pequeno, noites mal dormidas, o regresso ao trabalho, a ausência de apoio familiar, a reorganização psico-emocional que a maternidade traz, uma alimentação sofrível, e mais meia dúzia de coisas, gerir a fertilidade de forma natural no sentido de NÃO ENGRAVIDAR pode ser um desafio impossível de manter, sobretudo para casais sem experiência prévia na utilização de métodos barreira e monitorização de ciclos.
Optar por um método contracetivo que responde às tuas necessidades imediatas é mais produtivo que recusar a sua utilização para entrares depois, muitas vezes de forma subconsciente, em estratégias de evitamento sexual porque não te sentes segura.
Não consegues gerir tudo? Faz parte.
Gere o que podes e procura ajuda nos contracetivos hormonais se for necessário, durante o tempo que sentires que precisas.
Uma coisa de cada vez.
Se estás grávida ou acabaste de ter bebé, queres saber o que esperar dos teus ciclos menstruais no pós-parto, o impacto do aleitamento nos ciclos e no regresso da fertilidade, que opções contracetivas tens disponíveis e se, e quando, é seguro usares métodos barreira, não-hormonais e começar a monitorização de ciclo, agenda uma sessão individual.
Temos muito que conversar!
Feliz aterragem no pós-parto,
Patrícia
créditos da imagem: unsplash