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- Publicado: 20/06/2022
- Categoria: Informação, Literacia de Corpo
Aviões, pilotos e consentimento
Vamos imaginar que tenho um avião.
É meu. Pertence-me. Trato-o com carinho e cuidado.
Como preciso de um piloto, escolho-o também: o que me parece mais competente e com quem sinto empatia.
O avião é meu.
Eu decido para onde e quando quero viajar.
O piloto leva-me lá.
Portanto, a minha relação com o piloto é simples:
Eu decido.
Ele garante que o que peço é possível ser feito e de forma segura, e informa-me na eventualidade de ser necessário mudar alguma coisa do plano inicial: seja por problema técnico, necessidade de abastecer ou outra, que, dentro da sua expertise, pareça justificar-se.
Juntos chegamos a bom porto.
Porém, se o meu piloto decide dar uma de Maverick e faz o que lhe apetece, sem ouvir torres de controlo, sem cumprir com as regras da IATA, sem me ouvir a mim e sem cuidar convenientemente do meu avião, todos sofremos consequências, e isto não é o TOP GUN!…
(agora imaginemos que o meu corpo é o meu avião e que o meu ginecologista-obstetra é o piloto)
Entro descansada para uma viagem com destino ao Nepal e aterro num qualquer ponto das Caraíbas porque o piloto achou melhor.
Fazia mais sentido.
Sempre viajou para as Caraíbas.
Aliás, há anos que viaja para as Caraíbas e ninguém se tem queixado.
Quando começou a pilotar este era o destino de excelência, e quer lá saber se agora se viaja para outro lado, ou para onde eu quero ir!
Para além disso, ele é que é o piloto e eu mal sei conduzir um carro, de idiota que sou, quanto mais decidir o destino do meu avião.
Não crucifiquemos a Dra Maria do Céu Santo porque ela não é o problema.
Ela contribui e faz parte do problema mas temos de pensar globalmente e perceber que pagar ginecologista privado resolve o teu problema mas não o sistema.
Rolem para aí os olhos, gente que acha que isto é histeria de meia dúzia de feministas.
Comecem por se perguntar se o vosso corpo é mesmo vosso.
São vocês que mandam? Que decidem?
Ótimo.
Gostavam que fosse sempre assim? Fantástico.
É por isso que o problema é geral porque nem todas podem pagar. Há quem viaje de autocarro…
“Não sejam esponjas. Usem o cérebro.”
É isso. O meu cérebro, o meu corpo, o meu avião, as minhas escolhas.
Patrícia
Post de instagram @circuloperfeito_
Créditos da imagem: Eric Masur