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- Publicado: 23/10/2017
- Categoria: Ciclo Menstrual
Síndroma dos Ovários Poliquísticos
A Síndroma de Ovários Poliquísticos (ou SOP) é infelizmente uma condição mal entendida, mal interpretada e, por isso, muitas vezes mal diagnosticada pelo que espero conseguir condensar informação esclarecedora sobre o tema nestas próximas linhas.
Estima-se que a verdadeira SOP afete cerca de <20% das mulheres mas comecemos pelo princípio: uma síndroma é um conjunto de sintomas que resultam num estado particular de saúde e não pode, por isso, ser diagnosticada com base na identificação de apenas UM sintoma (como acontece comummente pelo simples facto de existirem quistos nos ovários) .
Por isso, em 2013 um Comité independente lançou o desafio aos NIH de mudança do nome desta síndroma:
“A designação ‘Síndroma de Ovários Poliquísticos’ causa confusão e foca-se num critério – nomeadamente na existência de quistos nos ovários – que não é essencial nem suficiente para diagnosticar a síndroma. Cremos, por isso, ser necessário atribuir-lhe um nome que reflita as complexas interações metabólicas, hipotalámicas, pituitárias, ovarias e adrenais que caracterizam a SOP.” Dr. Robert A. Rizza, médico especialista em Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, Professor em Medicina e membro do painel clínico da Mayo Clinic
Isto porque as hormonas envolvidas num diagnóstico de SOP vão desde os androgénios, à insulina e à progesterona.
O trabalho do Comité foi revisto e comentado pela The Endocrine Society e pela European Society of Endocrinology e daí saíram duas revisões sistemáticas que permitiram lançar novas linhas orientadoras sobre a SOP.
Então, para se avaliar a eventualidade de uma SOP devem reunir-se pelo menos dois dos três critérios seguintes (seguindo as linhas orientadoras do Rotterdam Criteria for PCOS).
- perturbações na ovulação (<8 ciclos por ano)
- hiperandrogenismo (níveis altos de androgénios)
- quistos nos ovários (mais de 10 – dez! – folículos antrais em cada ovário)
Numa investigação inicial devem começar por ser despistados o funcionamento da tiróide, os níveis de prolatina e de foliculoestimulina por poderem – em caso de desequilíbrio – apresentar sintomatologia idêntica a uma SOP.
Para além da irregularidade de ciclo – que pode caracterizar-se por ciclos longos (+ de 35 dias), muito curtos (menos de 21dias) ou ausências menstruais (amenorreia) consequências do ponto 1 mencionado acima – a lista de outros sintomas é extensa:
- Ganho de peso: a maioria das mulheres com SOP tem dificuldades em gerir ou perder peso
- Fadiga ou energia baixa: por vezes resultante de perturbações de sono
- Hirsutismo: o excesso de pêlos regista-se no rosto, costas, braços, barriga, peito, dedos dos pés e polegares
- Alopécia: cabelo muito fino com eventual queda de cabelo grave na meia-idade
- Alterações na pele: manchas escuras (nas axilas ou atrás do pescoço) ou acne severo
- Alterações de humor: depressão ou ansiedade
- Dor pélvica: pode ocorrer durante ou fora da menstruação. As menstruações são habitualmente muito abundantes
- Dores de cabeça: ocorrem usualmente nos momentos das alterações hormonais do ciclo menstrual
- Perturbações do sono: insónias, sono pouco profundo e apneia do sono
- Resistência à insulina/ níveis de açúcar no sangue desregulados ou elevados
- Colesterol elevado
- Pressão arterial alta
A síndroma de ovários poliquísticos é uma condição séria que pode originar problemas cardiovasculares, diabetes tipo 2 e/ou obesidade e complicações na fase de menopausa. A ovulação inconsistente pode ainda fazer com que seja mais difícil engravidar (principalmente em mulheres que não conhecem os indicadores de fertilidade).
Coisas a lembrar:
– é comum haver ciclos irregulares/anovulatórios durante os dois primeiros anos após a primeira menstruação; se começaste a tomar contraceção hormonal antes de perfazeres 3 anos menstruais completos devido a um diagnóstico de SOP, é possível que tenhas sido mal-diagnosticada.
– estima-se que 70% das mulheres jovens apresentem quistos nos ovários em determinado momento de uma ecografia.
– a toma da pílula contracetiva e a sua paragem influenciam não só os resultados das ecografias como os níveis de testosterona livre.
– tendo este último ponto em conta, para um diagnóstico fidedigno de SOP devem primeiramente ser afastados problemas de tiróide e de funcionamento das glândulas supra-renais. Depois, proceder a uma avaliação dos níveis de FSH, LH, Estradiol, TSH, DHEA, Testosterona total, 17-OH progesterona (no 2º/3º dias do ciclo), curva de glicémia e de insulina e verificação do estado dos ovários através de ecografia pélvica.
Voltarei à SOP num próximo post.
Bons ciclos!
Fontes:
PCOS Awareness Association
NIH – Rotterdam Criteria for PCOS
Centre for Research Excellence in Polycystic Ovary Syndrome
e outras citadas acima