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- Publicado: 23/05/2021
- Categoria: Informação, Literacia de Corpo
“São pelos, senhor!”
Há 5 anos um estudo americano confirmava o que já todos sabemos: que a relação que temos com os nossos pelos corporais, sobretudo os púbicos, tem um enquadramento cultural, e que a visão alheia sobre eles dita o nosso comportamento.
Parece que coisas simples como a opinião do parceiro ou idas ao médico, promovem uma necessidade acrescida de os aparar ou remover.
Por muito que se fale sobre a importância do pelo púbico na prevenção de ISTs, há quem diga que sente mais prazer ou uma sensibilidade acrescida quando não os tem, que é mais confortável para práticas de sexo oral, que é mais estético ou mais higiénico.
E é exatamente por este último ponto que trago este assunto ao Círculo Perfeito.
Acho curiosa a forma como se marketizam os produtos ou serviços para remoção de pelo porque é idêntica à dos produtos menstruais, que nos apresentaram líquidos azuis durante décadas.
Estes, os dos pelos, presenteiam-nos desde sempre com axilas, virilhas e pernas perfeitamente lisas, sem pelo à vista, pelo que, em rigor, quem se depila nem precisaria de o fazer!
O tal estudo americano dizia-nos que na sua amostra ninguém se depilava mais do que as mulheres brancas com formação superior, que o gosto do parceiro determinava o tipo de depilação feita, e que quanto mais novas, mais depiladas. Faz pensar?
Creio que a maior problemática associada a esta questão tem sobretudo a ver com um estigma social e a ideia de asseio: que ter pelo é coisa descuidada e pouco limpa e por isso tenho assistido divertida aos movimentos de coloração dos pelos das axilas, pensando o quão mais incríveis teriam sido os anos 90 se todas estrelas que desfilaram na passadeira vermelha de pelo à mostra, o tivessem feito com eles “a cores”!
Enquanto isso, pergunto-me também quantas pessoas terão aproveitado o confinamento para deixar a depilação de lado, enquanto permaneceram reclusas em casa, longe do olhar alheio…
O gosto pessoal construído com base nos discursos da nossa envolvente imediata vai determinar o que fazemos com os nosso pelos mas proponho uma reflexão sobre as normas sociais em torno do pelo e a avaliação que fazemos de quem o usa sem pudor nem vergonha.
Os pelos cumprem uma função: servem para proteger a pele, e sim, ganham cheiro à conta de bactérias e suor, mas nada que uma lavagem não resolva. Não é isso que fazemos com o nosso cabelo?