MNF? Não é para mim…

“O MNF (*) não é para mim…”
“Não tenho tempo para isso!”
“Queria começar mas não sei se consigo…”
“Isso é muito difícil/trabalhoso/uma chatice”

Tudo coisas que ouço com frequência…
Nessas alturas, costumo dizer – em jeito de semi-brincadeira – que se conseguimos ensinar crianças de 2 e 3 anos a estar atentas ao seu corpo para que deixem as fraldas, não pode ser assim tão complicado convidar as mulheres a virarem a sua atenção para os seus indicadores de fertilidade e para o seu corpo.

Muitas meninas, ainda antes de menstruarem pela primeira vez, vão-se apercebendo das suas alterações físicas ao entrar na puberdade: os mamilos doridos e a despontar, os pêlos que vão surgindo, o “corrimento” que começa a aparecer na roupa interior… E é por aqui que começamos: pela observação, pelo estar atenta.

Mas por vezes deixámos de estar atentas há muito tempo ou trazemos, como já referi aqui, um sentimento de urgência, uma necessidade de ter respostas ao fim de 10 dias de observação e de perceber tudo JÁ! (e muitas vezes vindas de um passado recente de contraceção hormonal com tudo o que isso implica). Não podemos atirar um livro para as mãos de uma criança que ainda agora está a aprender as letras e esperar que o consiga ler e compreender à primeira. Aqui é igual.

Mas dizer que o MNF é difícil?… Hmm…?
Diria que difícil é mudar de paradigma, aceitar os compassos de espera, aprender a compreender os sinais de um corpo onde nada acontece por acaso, ou abandonar o estigma e a vergonha que estão associados a um corpo que socialmente se quer assético, limpo e ‘silencioso’.

Difícil é digerir o “porque é que não soube disto antes?” ou, quando ao fim de 2 ou 3 ciclos de mapeamento, nos damos conta que há alterações a fazer na forma como cuidamos de nós – porque o corpo responde ao que lhe damos e não como queremos só “porque sim!” ou porque “até estou a tentar fazer isto, já colaboravas!”.

E sim, difícil é aceitar que somos responsáveis por coisas que nem fazíamos ideia, que o ciclo menstrual é um reflexo do nosso estado geral de saúde, e que tudo começa (literalmente, neste caso) na ponta dos nossos dedos.
Precisamos de “deixar de ouvir para responder” para passar a “ouvir para compreender”. E isso muda tudo.

Mas vamos a coisas fáceis porque é por aqui que se começa.
Deixo-te a minha rotina de MNF diária:

  • Ao acordar (06:30/07:00 – inclui domingos ??): medição de temperatura + registo na app que utilizo
  • Durante o dia, nas idas ao W.C. – observação do muco vaginal
  • ± 22:00 – escovar os dentes, desmaquilhar, toque do colo do útero (nos dias em que quero validar o muco e a janela fértil) + registo na app de informação sobre o colo + muco do dia

Total de tempo despendido: ±3 minutos diários.

Podemos concordar que o MNF não serve a todas as mulheres e/ou em todas as fases da nossa vida.
Concordemos até que a curva de aprendizagem do método pode ser lenta e desafiante para algumas mulheres (com condições de saúde específicas, tomas continuadas ou recentes de medicação ou em estados de desequilíbrio hormonal decorrentes do seu estilo de vida…) mas difícil? Difícil não é ?

Bons ciclos!

(*) MNF: Método Natural de Fertilidade