Menopausa – o último tabu

Há anos que trabalho com temas sobre os quais se fala baixinho, ou não se comentam de todo. É o caso da menstruação, da infertilidade, das perdas espontâneas… Nos últimos anos dei conta que não há tabu como o da menopausa.

Vivendo e aprendendo

Quando em 2019 comecei a facilitar os workshops “O ciclo aos 40 anos” estava certa de que este era um tópico difícil. Seja pela quantidade de gente que chega a esta fase de vida sem literacia menstrual, seja porque muitas pessoas ainda estão em fase de querer fazer bebés.

O que não contava era encontrar na conversa sobre a menopausa uma espécie de último tabu como se fosse um segredo apocalíptico que traz consigo o “princípio do fim”.

Esta é a fase da vida onde (parece que) ninguém quer estar.

A menopausa ainda traz consigo um misto de vergonha, embaraço, de corrida contra o tempo, de sensação de falhanço ou de fecho de portas.

E é por isso que precisamos de falar sobre ela.

Números da menopausa

Em Portugal, a idade média, no nosso país, de entrada espontânea na menopausa parece estar nos 48anos.

Isto é ainda uma surpresa (pouco agradável, diga-se) para muita gente.

Por um lado porque, na generalidade, as pessoas pensam que a menopausa é coisa de “idosa”, depois também porque o nosso país permite tratamentos de fertilidade (no sistema privado) até aos 50 anos, deixando a ideia de que estamos férteis até lá.

A idade média europeia é de 51.2 anos para a cessação dos anos reprodutivos.

Porque é que as portuguesas apresentam uma média inferior? é uma questão interessante para explorar… Contudo, até lá, o número de 2,8milhões de portuguesas com mais de 45 anos (Censos 2021) tem de ser o suficiente para trazermos o assunto para cima da mesa: de casa, do emprego e do café.

Sobretudo quando nos últimos anos temos visto aumentar a percentagem de mulheres nesta idade ainda ativas no mercado de trabalho (cerca de 83% segundo dados do BPStat).

Criar espaço

E nesta linha de necessidade de criar espaços para falar de menopausa, têm surgido convites de empresas que compreendem o quão importante é estarem preparadas para acolher e dar resposta a esta amostra específica de população.

No dia 16 de Novembro, a Randstad recebeu-me numa das suas Taboo Talks, uma iniciativa para destigmatizar assuntos que nos tocam dentro e fora dos nossos locais de trabalho, para falar sobre menopausa.

Sensibilizar para as alterações esperadas em termos de organização, memória e performance, é uma forma inteligente de garantir menor absentismo, maior colaboração e resultados adequados.

A menopausa não é só feita de sintomas e alterações físicas, onde tanto gostamos de nos focar. É um processo natural, fisiológico, ainda que complexo, que carece de enquadramento para que não se mediquem mulheres desnecessariamente, por um lado, e para que não falte medicação adequada e atempada para quem precisa, por outro.

Informação, informação, informação

Muito mais se falará sobre menopausa por aqui nos próximos tempos.

Neste entretanto, deixo apenas o esclarecimento de que aquilo que vulgarmente designamos por “menopausa” é habitualmente uma perimenopausa: a fase de sintomas e de transição que pode ser curta (<2 anos) ou levar quase uma década.

Apenas um ano de calendário passado após a última menstruação, sem qualquer outro motivo que não a idade (+45anos), marca a nossa menopausa.

Ao contrário da primeira menstruação, da qual damos conta inevitavelmente, a última chegará sem aviso prévio de que não se repetirá.

Até à tua – e à minha – prometo que por aqui não faltará informação.

Se tens mais de 40 anos, estás a sentir alterações nos teus ciclos, tens sintomas “estranhos” ou queixas novas que te fazem sentir “diferente” do habitual (dores musculo-esqueléticas, zumbido nos ouvidos, dores de cabeça, irritação não justificada, por exemplo), ou queres preparar-te para o que há-de vir, agenda uma sessão comigo. Vamos conversar.

Até lá!