Adeus pílula, até nunca mais?

“Adeus pílula, até nunca mais” ou “até daqui a nada”, quando não perceberes o que se passa no teu corpo e deres esta batalha como perdida?

Então, decidiste parar a pílula (ou outro tipo de contraceção hormonal contínua – CHC): talvez porque tenhas decidido deixar de tomar hormonas sintéticas, talvez porque queiras engravidar.

Qualquer que tenha sido o motivo, o pós-pílula é uma fase que pode provocar alguma ansiedade sobretudo quando não sabemos o que nos espera e sair dela está longe de ser igual para toda a gente.

Há quem tenha os ciclos de volta logo de seguida, quem não tenha, quem fique com imenso acne, quem tenha dores de volta, quem descubra que todas as maleitas de adolescência são agora coisa do passado. Enfim.

Antes de mais, é preciso falar claro: a CHC não causa infertilidade.
Decerto já ouviste isto da boca do teu médico e, em rigor, é verdade.

Porém, aquilo que talvez não saibas é que nem sempre o regresso a um estado ótimo de fertilidade e de equilíbrio hormonal, que se traduz em bons níveis de saúde menstrual, é imediato, e é sobre isso que hoje te venho falar.

Enquanto estamos sob efeito de CHC o nosso ciclo menstrual está suprimido. Imagina-o de férias, sem trabalhar – há quantos anos, no teu caso? pois… – lá longe. Tipo, no Bali.

É possível que tenhas um, ou dois (ou até três) sangramentos depois da última caixa de pílula com intervalos semi-regulares. Mas por vezes chega o dia em que a tal da “menstruação” não dá sinais.

Esta é a fase em que habitualmente voltamos ao médico, por vezes já com uma série de testes de gravidez feitos, e uma enorme carga de nervos em cima.

Tipicamente lá vem a ecografia endo-vaginal e os famosos (micro) quistos nos ovários. Talvez as borbulhas tenham voltado ou a oleosidade do cabelo. Talvez os sangramentos (quando ocorrem) sejam agora mais fortes e mais dolorosos.

E isto tudo não só é comum como “normal” se olharmos para o problema da perspectiva certa.

(Estás a tomar nota?
Ciclos irregulares, sangramentos “avulso”, dores menstruais, ausência de menstruação, quistos nos ovários, acne no rosto ou nas costas – e podes acrescentar: cabelo oleoso, tensão mamária, inchaço, alterações no peso, aparecimento de miomas ou pólipos, gravidez “surpresa” – se não tomares precauções – e até tudo o que tinhas como sintoma antes da CHC. Tudo comum no pós-CHC).

A solução não passa por voltar à CHC para “regular o ciclo” porque a pílula não regula o ciclo! A pílula suspende-o, porque inibe o ciclo ovárico que controla o ciclo uterino e, portanto, as tuas menstruações, e podes vê-lo (ao teu ciclo) a afastar-se novamente, de volta à porta de embarque e a caminho do Bali.

Outra vez.

A solução também não passa por tomares fármacos à toa para provocar sangramentos que vão fingir “menstruações” porque se por um lado ficas descansada com essa ilusão de que agora está tudo bem, não está obrigatoriamente tudo bem.
A solução é temporária porque o “resultado” é falso, sintético, artificial e o teu ciclo menstrual é tudo menos isso.

As mezinhas, os chás, e os “suplementos naturais” que funcionaram com amigas reais ou virtuais, também não são obrigatoriamente solução para ti. E tem em conta que lá por ser um “suplemento” e “natural” não significa que não tenha consequências na tua saúde hormonal!… Por isso, desatar a engolir comprimidos e suplementos naturais também não costuma ser a saída.

Então, vamos ao que interessa.
Enquanto esperas, há imenso que podes fazer. Por exemplo:

  1. Conhecer os teus indicadores de fertilidade e começares por observá-los e, a seu tempo, monitorizá-los, para saberes o que se passa “dentro” de ti.
  2. Fazer download de uma app que gostes para registares o que identificas no ponto acima (lê mais aqui sobre isto).
  3. Estabilizar o teu pH vaginal para poderes ter no muco um indicador fidedigno das tuas flutuações hormonais. (Isto é principalmente importante se sofreste de candidíases recentes, recorrentes ou à conta da CHC).
  4. Certificares-te que a ovulação ocorre pois só quando esta se instala, podes começar a esperar a tua menstruação a cada ciclo. (Re)Lê o ebook de MNF para saberes como a identificar.
  5. Se paraste a CHC porque queres engravidar, utiliza a temperatura como indicador de duração da segunda fase de ciclo. Vais precisar de ter a tua progesterona equilibrada para evitares abortos espontâneos ou complicações de gravidez e com gráficos de temperatura conseguirás identificar como está a tua progesterona.
  6. Alimentar-te e hidratar-te convenientemente, dormir respeitando o ciclo circadiano e praticar exercício físico. Tudo isto vai ajudar o teu corpo a restabelecer-se. E ISTO É MESMO – MEEESMO – IMPORTANTE!
  7. Estar atenta ao regresso da libido. Habitualmente, chega devagarinho mas não é difícil dares por ela quando se instala. Muita gente, após anos de CHC, mal se reconhece. É assim subtil, como um tijolo atirado à cabeça, sabes? Aproveita-a para fazeres novo reconhecimento do teu corpo – que “amor” é coisa que se faz, antes de mais, na primeira pessoa.
  8. Dar tempo ao teu corpo para se recompor e ao teu ciclo para fazer as malas, apanhar o avião e regressar lá de loooonge, para onde o enviaste há muito tempo.

O segredo está no auto-cuidado, no dar suporte ao fígado, no fornecimento de micro-nutrientes adequados, etc., e sobretudo, no tempo do Tempo!
Não há urgências num corpo que leva ± um mês em ciclo e 40 semanas a gerar uma nova vida.

Não há soluções mágicas.
Muito menos uma solução adequada a toda a gente!
Porque a tua idade, o teu estado geral de saúde, o teu estilo de vida, a tua alimentação, o tipo de CHC que usaste, o teu índice de gordura corporal, etc. são fatores determinantes no “regresso” dos teus ciclos.

Por isso, não compares a tua estória com a das outras pessoas sejam conhecidas ou malta que conta a sua história online. Habitualmente isso só leva a mais ansiedade e, invariavelmente, a más escolhas e opções desesperadas por soluções que nem sabes se te servem e que podem gerar stress interno, adiando ainda mais um bocadinho o regresso dos teus ciclos…

Se queres engravidar, o que sabemos hoje, é que a média estimada para o restabelecimento de uma fertilidade ótima (se fizeres a tua parte) ronda os 8 a 9 meses: i.e. ovulação consistente, muco favorável, endométrio de espessura adequada, progesterona equilibrada – the whole shebang!

Se queres ajuda e um acompanhamento personalizado, de acordo com as tuas necessidades específicas e o teu histórico pessoal, vem a uma sessão de acompanhamento para gerires melhor esta fase da tua vida.

Até já!