Menino ou Menina?

“Há dicas para fazer menino ou menina?” Há. Muitas.

Pela internet, nos fóruns de treinantes, entre o “comigo resultou” e estudos obsoletos, as sugestões são às dezenas. Desde alimentos específicos, a saltar refeições ou à contagem de calorias diárias ingeridas, a posições específicas durante o ato, mezinhas e fases de lua, é só escolheres. Se “te sair o que querias”, podes dizer que funcionou contigo mas, em boa verdade – e pedindo desde já desculpa por ser portadora de más notícias (outra vez?) – não há fundamento científico para nada disto.

Mas vamos aos estudos porque já houve teorias “sérias” e livros escritos sobre o assunto.

Um deles, publicado em 1971 e reeditado há pouco mais de 5 anos, vendeu mais de um milhão e meio de cópias em todo o mundo! Escrito pelo médico Landrum Shettles, que definiu o método ao qual deu nome – método Shettles, em conjunto com um jornalista e escritor, David Rorvik, a sua teoria tinha por base um conceito de maior rapidez mas também maior fragilidade do esperma Y (que originaria um bebé rapaz), derivando daqui em conclusões sobre o timing do sexo e a profundidade da penetração em estilo darwinista: para fazer rapazes, o sexo devia acontecer o mais próximo possível da ovulação; para fazer raparigas, 2 a 3 dias antes.

Na década de ’90, o método Whelan, desenvolvido por uma epidemiologista americana a quem temos muito que agradecer mas por outros motivos, contradizia (em parte) o método Shettles, invertendo a dinâmica “timing-sexo do bebé”, defendendo que a bioquímica do princípio do ciclo favorecia a produção de rapazes e por isso, para os conceber, era ter sexo 4 a 6 dias antes da ovulação, e para bebés-menina dois a três dias antes da ovulação…

Não há provas atuais que sustentem estes métodos – aliás, logo na década de ’90 as teorias entre o timing do ato sexual e o sexo do bebé foram negadas em inúmeros de estudos.

Portanto, ao que parece, naturalmente não conseguimos “programar” o que o nosso ovo trará.
E que bom! Não vá acontecer esquecermo-nos da dádiva que é, só por si, conceber uma vida e que esta não é suposto ser um produto de consumo “à medida do freguês”.

Bons Ciclos!

France, J. T., F. M. Graham, et al. (1992). “Characteristics of natural conceptual cycles occurring in a prospective study of sex preselection: fertility awareness symptoms, hormone levels, sperm survival, and pregnancy outcome.” Int J Fertil

Gray, R. H. (1991). “Natural family planning and sex selection: fact or fiction?” Am J Obstet Gynecol 

Gray, R. H., J. L. Simpson, et al. (1998). “Sex ratio associated with timing of insemination and length of the follicular phase in planned and unplanned pregnancies during use of natural family planning.” Hum Reprod 

Martin, J. F. (1997). “Length of the follicular phase, time of insemination, coital rate and the sex of offspring.” Hum Reprod