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- Publicado: 24/03/2022
- Categoria: Literacia de Corpo
“Estranhamente Vermelho” um filme sobre o período?
[contém spoilers]
Estreou, há umas semanas, o novo filme da Disney-Pixar, sobre a Mei Lee, uma miúda de 13 anos que vive em Toronto e que de vez em quando se transforma num panda vermelho gigante.
Estava super curiosa para ver o filme porque inúmeras pessoas me diziam que era “sobre o período”.
Como gosto de viver no limite, atirei-me à internet para ler reviews americanas e deparei-me com comentários de mães em choque com o filme, a avisarem outros pais que este não era um filme para crianças.
Os motivos iam desde cenas sobre “o período”, a miúda suspirar por rapazes de uma banda, a discutir com a mãe e a mentir.
Bem, vi o filme que considero ser uma terça-feira normal e possível na vida de uma qualquer adolescente… 😅
A determinada altura a personagem principal parece receber o seu primeiro período, mas está em pânico por se ter transformado num panda. A mãe diz-lhe então que ela agora já é uma mulher (clássico!), usa uma metáfora para o período, e traz-lhe pensos, analgésicos e uma botija de água quente à casa e banho (uff!). #tudoerrado
Isto é uma chatice de mensagem porque continua a perpetuar a ideia de que é normal os períodos serem dolorosos, e porque supostamente este é um filme produzido com uma equipa totalmente constituída por mulheres!
A dor menstrual não deve ser normalizada nem sequer tida como algo expectável…
Mas a cena “do período” são dois minutos porque o filme é, todo ele, sobre as alterações da puberdade em termos físicos e em termos mentais e sobretudo sobre regulação emocional.
No Brasil, o filme foi traduzido para um “RED – Crescer é uma Fera” que deixa pouco espaço para confundir o objeto do filme: a puberdade, e tudo o que ela acarreta, é difícil!
O panda gigante surge cada vez que a miúda se descontrola ou está com emoções exacerbadas.
Mas ao contrário das mulheres da sua família, a protagonista escolhe manter o seu panda e aprender a geri-lo, ao invés de abdicar dele, silenciando-se, e, eventualmente, transformando-se numa “menina bem comportada”.
Aprender a domar o seu panda, significa ajustar comportamento, regular resposta perante estímulo.
Quando escrevi o Período – um Guia para Descomplicar, fiz questão de incluir várias páginas sobre o que acontece no nosso cérebro durante a puberdade e adolescência: desde a necessidade de emoções fortes, a importância dos amigos, as primeiras paixões.
Porquê? Para pormos um fim à conversa de que são as hormonas que fazem de nós umas histéricas, incapazes de gerir emoções.
Percebo que a intenção do filme também fosse essa porém, de acordo com uma sondagem que fiz no instagram do Círculo Perfeito há uns dias (e à qual pertence a imagem que acompanha este artigo), creio que falhou largamente o alvo já que a mensagem parece não ter ficado claro para grande maioria dos espectadores.
Ainda assim, vale a pena ver.
Patrícia