O que é a Perturbação Disfórica Pré-Menstrual?

E se for uma Perturbação Disfórica, aquilo que te habituaste a chamar de tensão pré-menstrual (TPM)?

Nestes já muitos anos do Círculo Perfeito, tenho-me cruzado com muitas pessoas com TPM forte e com elevado impacto nas suas vidas.

Agora que já nos habituámos a ouvir que a dor menstrual forte e incapacitante não é normal, é tempo de fazer o mesmo com a TPM. Se é forte, se te incapacita no dia a dia, e/ou  te sentes “outra pessoa” antes do período chegar, sabe que isso não é normal.

Tensão Pré-Menstrual

A famosa TPM é utilizada para descrever o momento prévio à menstruação em que se aceitam algumas alteração de humores, sensibilidade emocional ou exacerbação de determinados comportamentos.

Ouvimos falar sobre ela desde pequenas porque (infelizmente) serve como piada ou forma de justificar o comportamento “do mulherio”. A internet está pejada de memes sobre isto, e quase de certeza que já ouviste um “estás à espera do período?”.

Em termos clínicos, estima-se que a TPM atinja ±80% das mulheres na fase lútea do seu ciclo.

Os sintomas são mais de uma centena e vão desde questões físicas como:

  • inchaço
  • retenção de líquidos
  • tensão mamária
  • desejos ou compulsões alimentares, etc.

a outros do foro emocional como

  • irritabilidade
  • choro fácil
  • mau humor

A sintomatologia da TPM é pontual e, sobretudo, não interfere com a capacidade de lidar com o dia a dia.
Ou seja, é possível de ser gerida, cede quando promovemos alterações no nosso quotidiano pré-menstrual e não precisa de tratamento químico.

Existem pessoas que não a sentem de todo!
Outras que a utilizam para se conhecer melhor ou perceber o que não está a funcionar nas suas vidas.

Há ainda um enquadramento socio-cultural da TPM sobre o qual nos devemos educar (e que podes explorar com a leitura do Não é Só Sangue) porque me parece importante discutirmos o assunto de forma séria e integrada.

Perturbação Disfórica Pré-Menstrual

Estima-se que 2-5% de *mulheres em idade reprodutiva sofram de algo a que chamamos de Perturbação Disfórica Pré-Menstrual (PDPM).

Esta é uma condição listada no Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5) e que pode ter expressão fraca, moderada ou severa.

Apesar de em Portugal ainda ser raro fazer-se a distinção entre uma TPM e uma PDPM, importa saber que falamos de coisas distintas e que a PDPM é um diagnóstico sério e que deve ser endereçado adequadamente.

A International Association of Premenstrual Disorders (ex-Gia Allemand Foundation) – da qual faço parte – assumiu como missão (após o suicídio da atriz americana Gia Allemand que sofria de PDPM) informar e educar a população em geral, mulheres, parceiros, médicos e técnicos de saúde, sobre esta condição.

A PDPM é um transtorno cíclico, agravado comummente na fase lútea, mas não é um problema hormonal!

Apesar da patofisiologia do TDPM ainda não ser completamente clara, os estudos apontam para uma interação entre a ciclicidade hormonal e os neurotransmissores, incluindo a serotonina, resultando num quadro de sintomas típico, que parece apresentar propensão genética, e que muitas vezes é confundido com o transtorno bipolar.

O agravamento de sintomas pode também ocorrer após eventos reprodutivos tais como a menarca, gravidez, parto, aborto espontâneo ou menopausa.

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Como se diagnostica?

Ainda não existe um teste para diagnosticar a PDPM pelo que a única forma de o despistar é através do mapeamento de sintomas pelo menos durante dois ciclos menstruais.

Porque a melhor forma de chegar ao diagnóstico é um “pré-diagnóstico pessoal”.

Assim, nas duas semanas prévias à menstruação, procuramos, de forma recorrente, pelo menos 5 dos sintomas listados abaixo, com manifestações de tal forma fortes que a vida “normal” se interrompe (ex.: faltas ao trabalho ou à escola, isolamento deliberado, etc.):

  1. Sentimentos de tristeza profunda, desespero ou pensamentos suicidas
  2. Sentimentos de tensão ou ansiedade
  3. Ataques de pânico, alterações de humor ou choro frequente
  4. Irritabilidade ou zanga (que não passa e afeta o relacionamento com os outros)
  5. Desinteresse pelas atividades quotidianas e relações
  6. Cansaço ou falta de energia
  7. Cravings ou compulsões alimentares
  8. Perturbações do sono (insónia ou sono excessivo)
  9. Perda de controlo
  10. Sintomas físicos como dores de cabeça, tensão mamária, dores musculares ou nas articulações

Atenção: problemas de tiróide, fibromialgia ou síndroma de fadiga crónica, lúpus ou perturbações de ansiedade podem mimetizar os sintomas pelo que faz sentido seres devidamente acompanhada no teu pré-diagnóstico, caso te revejas na sintomatologia descrita acima.

A Perturbação Disfórica Pré-Menstrual é um assunto sério.

p.s. – desde Outubro de 2019 vejo uma comunidade virtual de sensibilização e apoio ao TDPM aparecer pelo Facebook. Se sentes que podes sofrer de PDPM, junta-te ao grupo.

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