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- Publicado: 04/12/2022
- Categoria: Informação, Literacia de Corpo
Rastreio do cancro do colo do útero em casa
É frequente chegarem pessoas ao Círculo Perfeito que não visitam um ginecologista há anos.
É por isso que importa falarmos sobre a possibilidade do rastreio do cancro do colo do útero em casa.
O cancro do colo do útero
O cancro do colo do útero está entre os cancros mais fáceis de prevenir. Ocupa, ainda assim, o quarto no lugar no ranking de cancros em mulheres*.
Em 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou uma iniciativa para acelerar a sua eliminação do cancro do colo do útero durante este século.
Este é um cancro que deriva de uma infeção por HPV (Vírus do Papiloma Humano).
Apesar da maioria das alterações provocadas pelo HPV desaparecerem espontaneamente, poderão progredir para cancro, num período estimado em cerca de 10 anos, se forem deixadas sem vigilância.
Em Portugal, o rastreio está contemplado pelo SNS até aos 60 anos, através de uma citologia cervical (papanicolau) feita em consulta.
Uma nova abordagem
Uma das dificuldades sentidas um pouco por todo o mundo tem sido a de chegar à população por forma a garantir a sua comparência ao rastreio, pois só assim será possível ver uma redução nos números de cancro do colo do útero.
A não comparência prende-se a motivos diferentes entre os estratos sociais, e grupos etários.
Por exemplo, há quem não goste de ir ao médico, ou quem não vá por falta de tempo.
Entre um e outro motivo, existem ainda dezenas de outros…
Em 2018, a Holanda lançou um programa pioneiro com resultados aplaudidos internacionalmente: quando chega a altura do teu rastreio és avisada; caso não compareças em consulta, recebes um segundo contacto a perguntar se queres fazer a auto-colheita (que deves enviar posteriormente para um dos laboratórios indicados para o efeito). Se tiveres um resultado que necessite de follow up médico, és contactada para marcação de consulta.
Na Suécia, a pandemia veio acelerar a necessidade de se encontrar estratégias para fazer chegar uma forma eficiente de rastreio à população. Em apenas 1 ano, o envio de mais de 300 mil kits de auto-colheita na região de Estocolmo, garantiu um aumento de 10% de população rastreada.
Neste momento, existem já 17 países com estratégias de auto-colheita, em diferentes fases e para diferentes populações. Entretanto, programas de auto-teste estão disponíveis na Austrália desde Julho de 2022, e a partir de Julho de 2023 na Nova Zelândia.
Contudo, para além das dificuldades logísticas de criação de estratégias que agilizem o processo de rastreio por auto-colheita, estão ainda identificados dois eventuais obstáculos: por um lado, a iliteracia de corpo que se pode traduzir em pouco à vontade para tocar os genitais; por outro, como indicado por Marylis Corbex (Senior Technical Officer da OMS), o facto de alguns profissionais de saúde terem nos rastreios uma fonte significativa do seu rendimento.
O auto-teste
O kit para o rastreio por auto-colheita contém uma pequena escova, idêntica à de uma máscara de pestanas, para ser introduzida no canal vaginal para a colheita, sem necessidade de uso de um espéculo.
Há tutoriais online, apesar dos kits se fazerem acompanhar com imagens nas instruções.
O teste é feito em poucos minutos, de forma simples e sem intervenção de terceiros.
Portanto, promete ser tudo o que precisamos: uma solução eficaz, compatível com a vida moderna, que dá resposta a uma necessidade de quem evita consultórios por desconforto, convida à responsabilidade individual e à literacia de corpo e em saúde.
Para quando em Portugal?
No nosso país, há 10 anos recebemos a boa notícia de uma empresa biotecnológica, formada por investigadores da Universidade de Coimbra, ter desenvolvido um teste de auto-colheita.
Em 2014, o Consenso sobre a Infeção do HPV da Sociedade Portuguesa de Ginecologia de 2014 já referia a possibilidade do teste ser feito neste formato.
Quatro anos depois, a Administração Regional de Saúde do Centro lançou um projeto de auto-colheita dirigido a uma população aleatória de 800 mulheres que há mais de 4 anos que não faziam o exame.
À data deste artigo, não é possível encontrar informação sobre o estado atual do projeto.
Quando se estenderá à restante população do país? Em que moldes funcionará? Ainda não se sabe. Mas vamos acreditar que esta será uma realidade, em breve, no nosso país.
Até lá, lembra-te que tens o ebook Dá-te Colo disponível aqui no site.
Nele encontras informação sobre o colo do útero, o HPV, exames e tratamentos e mais algumas coisas que importam saber.
Bons Ciclos,
Patrícia
Créditos da imagem: doi.org/10.1016/j.ypmed.2021.106900