Hemorragia de privação

Uma hemorragia de privação é o sangramento que ocorre na pausa entre duas caixas de pílula: um sangramento espoletado pela paragem da toma das hormonas artificiais.

A pílula é um contracetivo hormonal, usualmente combinado i.e. com uma mistura de estrogénio e progesterona sintéticos.

O seu mecanismo primário é parar a ovulação – não havendo libertação de óvulo, não há risco de conceber um bebé.

Numa segunda dinâmica, a pílula também contribui para espessar e/ou alterar o muco cervical, afetando a mobilidade do esperma e reduz o espessamento do endométrio (via mecanismo primário), dificultando a eventual implantação de um óvulo fecundado, caso aconteça a mulher ovular.

Portanto, quando uma mulher toma a pílula (ou outro contracetivo hormonal), o seu ciclo menstrual fica interrompido.
Este compõe-se de dois ciclos internos: o ovárico (para libertação do óvulo) e o uterino (que acompanha o ovárico, preparando o útero para receber o ovo). Ora, se o ciclo ovárico é suspenso, o segundo não tem por que acontecer, certo?

Quando a comercialização da pílula para efeitos contracetivos começou a ser testada, algumas mulheres referiam sentir-se desconfortáveis por não sangrar. Instituiu-se então que as embalagens conteriam 21 comprimidos ativos, seguidos de uma pausa para sangramento – aquilo que chamamos “hemorragia de privação”.

Para maior conforto (?) de médicos e mulheres, democratizou-se o uso da palavra “período” ou “menstruação” também para este sangue, mas, à semelhança do que acontece lá fora, precisamos abandonar esta terminologia porque precisamos ser claros: não estamos a falar da mesma coisa.

“Então e as pílulas de 28 dias? Se não há privação porque a toma da pílula é contínua, porque é que sangro?”

Bem, porque os últimos comprimidos são inativos: maioritariamente compostos de lactose mono-hidratada – que é como quem diz “açúcar” portanto aí tens a privação (e a desinformação) ✌?

Bons ciclos!

assinat_Patricia